Título: Grande Sertão:
Veredas
Título Original: Grande
Sertão: Veredas
Autor: João Guimarães Rosa
Quantidade de páginas: 624
Editora: Nova Fronteira
Publicação: 2010
Preço Médio: R$ 38,40 – R$
87,37
Sinopse:
“Estou contando ao senhor,
que carece de um explicado. Pensar mal é fácil, porque esta vida é embrejada. A
gente vive, eu acho, é mesmo para se desiludir e desmisturar. A senvergonhice
reina, tão leve e leve pertencidamente, que por primeiro não se crê no sincero
sem maldade. Está certo, sei. Mas ponho minha fiança: homem muito homem que
fui, e homem por mulheres! – nunca tive inclinação pra aos vícios desencontrados.
Repilo o que, o sem preceito. Então – o senhor me perguntará – o que era
aquilo? Ah, lei ladra, o poder da vida. Direitinho declaro o que, durando todo
tempo, sempre mais, às vezes menos, comigo se passou.
Aquela mandante amizade. Eu
não pensava em adiação nenhuma, de pior propósito. Mas eu gostava dele, dia
mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito
coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a
cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu
só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim.
Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual
que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo
próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às
vezes adivinhei insensatamente – tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo
renegava. Muitos momentos.”
Opinião:
Apesar da fama do autor, este livro foi minha
primeira experiência com algum trabalho dele. Faz aproximadamente uma semana
que terminei de lê-lo, e posso dizer que ainda estou impactada. O livro é muito
bom. Foge muito do gênero literário que eu estou acostumada a ler, mas
imediatamente se tornou um dos melhores que já li da literatura nacional. Algumas
coisas me chamaram atenção em especial e comentarei elas aqui embaixo para
vocês (sem spoiler).
Mapa presente no livro. |
Texto de Paulo Rónai:
Antes da história começar, o
livro apresenta ao leitor uma nota do editor, um poema escrito por Carlos
Drummond de Andrade e um pequeno texto escrito por Paulo Rónai. Este texto é
bastante instrutivo para o leitor, porém aconselho que deixem para lê-lo depois
que lerem a história do livro. Percebi que alguns trechos escritos por Paulo
Rónai neste texto adiantam situações que seriam mais emocionantes se tivessem
sido lidas diretamente na história. O texto não chega a dar nenhum spoiler
diretamente, porém possui dicas suficientes para que o leitor faça deduções
sobre o destino dos personagens.
Linguagem:
A linguagem usada no livro
me causou bastante estranhamento no início, pois o autor faz uso da linguagem
própria de um jagunço (nome que costumava ser dado a um capanga de líder
político no nordeste). Por isso existem muitos regionalismos e também muitas
palavras criadas por Guimarães Rosa, porém não é necessário um dicionário nem
nada do tipo, pois tudo pode ser compreendido junto ao contexto.
Narrativa:
A história é narrada pelo
protagonista, Riobaldo, um ex-jagunço. Ele conversa com o leitor como se
estivesse falando com um viajante vindo da capital, alguém que ele trata com
muito respeito e julga ser mais inteligente que ele. Nas primeiras quarenta
páginas do livro, a narrativa de Riobaldo parece confusa, cheia de perguntas, lembranças
desconexas, metáforas estranhas e pensamentos filosóficos. A sensação do leitor
é de que toda aquela conversa é à toa, mas quando o protagonista começa a
contar sobre seu período como jagunço, a história finalmente flui. A narrativa
ganha sequência e aos poucos o leitor vai percebendo que todos aqueles
questionamentos que Riobaldo fazia no início do livro estavam relacionados às
coisas que teve que vivenciar em sua vida e tudo passa a fazer sentido. Por
isso é necessário persistência para ultrapassar as primeiras páginas, mas o
esforço é bem recompensado depois.
O Diabo:
O Diabo é bastante presente
no imaginário do protagonista. Ao mesmo tempo em que Riobaldo diz não acreditar
na existência dele, demonstra às vezes ter medo de que ele exista. Em alguns
trechos o personagem apresenta suas visões de como seria o Diabo, e isso é bem
interessante, pois às vezes ele parece acreditar no Diabo como uma figura horrenda
com chifres, enquanto em outras o vê como um homem elegante, ou ainda chega a
supor que o Diabo seja apenas a maldade dentro de cada ser humano. Depois toda
essa preocupação com relação ao Diabo é compreendida pelo leitor.
Cavalgada, obra do pintor Carybé |
Diadorim:
Diadorim é um jagunço do
mesmo grupo que Riobaldo faz parte e os dois são melhores amigos. Porém
Riobaldo nutre um amor secreto por Diadorim e isso é mostrado de forma bastante
surpreendente. O protagonista não se permite declarar este amor, visto que ele
próprio o nega muitas vezes até começar a acreditar que sinta mesmo aquilo.
Diadorim é descrito pelo ponto de vista do protagonista, e ele é mostrado como
um homem frio, vingativo e com sede de guerra. Porém, ao mesmo tempo, há
algumas cenas em que Diadorim demonstra ser sensível, principalmente com
relação à natureza que o cerca e ao pai. Além disso, Diadorim e descrito como
um homem bonito e de traços delicados. O
protagonista o admira também por sua coragem maior do que a de todos os outros
do bando. Não sei se isso acontece porque o personagem é descrito pelo ponto de
vista de Riobaldo, que é apaixonado por ele, mas é muito fácil que o leitor também
acabe admirando Diadorim. Ele é o personagem que mais me chamou atenção na
história.
Os jagunços:
Os jagunços do bando de
Riobaldo chamam atenção porque aparecem de forma que encanta o leitor. Eles têm
nomes e cada um tem uma identidade própria, além de que são mostrados como um
grande grupo de amigos que defendem a justiça na qual acreditam, cavalgando
juntos, comendo juntos, dormindo juntos, guerreando juntos e festejando juntos.
Dá até vontade de estar no meio deles se divertindo tanto e vivendo tantas
aventuras!
“(...) O Arrenegado, o Cão,
o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado,
o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o
Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o
Sem-Gracejos... Pois, não existe!”
Sei que desta vez a resenha
foi grandinha, mas espero que tenham se interessado em conhecer esse clássico
da literatura nacional. E quem já conhece, comenta aqui embaixo (sem spoiler) o
que achou deste livro!
Beijos.
Jéssica Martins
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"O fruto de cada palavra retorna a quem a pronunciou" (Abu Shakur).