Hoje li um post sobre viajar sozinha e me
inspirei pra escrever o meu! Só Deus sabe quantas vezes deixei de viajar por
não ter companhia. Nem sempre as pessoas tem o tempo, dinheiro ou querem ir ao
lugar que você quer ir. E assim, vivia reclamando e achando ruim. Um belo dia,
uma viagem com uma amiga deu errado, ela não iria mais e eu, de passagem
comprada, estava no dilema se iria ou não sozinha. Minha família toda contra.
Diziam que eu ia morrer, ser estuprada, roubada e enganada. Amigos, alguns
contra outros a favor. Foi quando conheci um viajante do mundo que me disse as
exatas palavras: viajar sozinho é a melhor experiência do mundo. Você vai ver!
Quando você for nunca mais vai querer parar. E né que esse demônio estava
certo? A liberdade de se viajar sozinho, de se escolher pra onde vai, o que vai
fazer e quanto tempo gastar em determinada atividade não tem preço. Muitos
dirão: não gosto de ficar sozinho, Dermilive, é tedioso, não tem com quem
compartilhar nada, nem dividir, NÃO TEM QUEM TIRE SUAS FOTOS e tals. Admito que
existem seus prós e contras. Mas hoje vejo que são bem mais prós! Porque os
contra são todos contornáveis. E se você me disser que não gosta de passar um
tempo sozinho com você mesmo... cara tá complicado! Se nem você gosta da sua
companhia, como espera que os outros gostem? Hahahaha. Eu me adoro! Amo estar
com muita gente ao redor, conversando. Mas como professora e moradora de um lar
onde vivem mais 7 pessoas + visitas, ter um tempo só comigo é raro. Tenho
comprado viagens pra ir sozinha, mas meus amigos descobrem e tem se juntado a
mim. Acho muito legal estar sendo vista como boa viajante e boa companhia, mas
sinto falta de ir só também. A adrenalina de se estar sozinho, de não saber o
que encontrar ou QUEM irá passar pelo nosso caminho... bom demais.
Viagem dos sonhos à Grécia. Fui sozinha e só me arrependeria se não tivesse ido |
Confesso que
me acomodo bastante quando viajo com companhia. Faço amizades circunstanciais
ou incluo no grupinho viajantes solitários. Nesta última viagem que fiz, fui
com uma amiga, a Dani! Foi maravilhoso! Mas fizemos poucas amizadezinhas
durante os 12 dias em que estivemos juntas. Horas após sua partida (ela foi
antes que eu), conheci um canadense que trabalhava no hostel que estávamos
hospedadas e eu nem notei. Ambos sozinhos na parada, esperando o ônibus,
engatamos num papo que só teve fim com sua partida ao Chuy. Se estivesse
acompanhada, provavelmente não puxaria assunto e deixaria de ter conhecido,
mesmo que rapidamente, uma pessoa que em pouquíssimas horas me ensinou um pouco
mais sobre a vida e ainda me fez sentir super especial. Ele disse: como
trabalho num albergue, muita gente me conhece, mas eu não lembro de ninguém. De
você eu vou lembrar, pode ter certeza disso! fofo! Ganhei meu dia! Hahaha.
Eu e Dani em Punta del Este-Praia Brava. |
Amiguchos fofos que conhecemos em Colônia: Marcelo e Márcia |
Depois daí foram muitas pessoas que conheci, só pq estava sozinha e tinha
minhas 20.000 palavras diárias pra gastar! Conheci 2 criancinhas que me
encheram de carinho enquanto esperava o ônibus, donos dos restaurantes locais
que até abraço e beijo me deram quando elogiei o ambiente e a pizza da pizzaria
deles. Na volta pra casa, no avião, abri meu coração (em espanhol hahaha) para
uma Uruguay fofa que mora na Nova Zelândia que foi ao meu lado no voo de volta
pra casa! A amizade foi tanta que até convite pra ficar em sua casa quando eu
for pra lá rolou.
Salvador e Belém brincando com minhas coisas na espera do ônibus em La Pedrera. |
É incrível como nos abrimos para conhecer o outro, e falamos
coisas que as vezes não dizemos nem aos nossos melhores amigos. Isso passou com
minha amiga Magdalena, Polonesa! Conheci Meg na minha viagem à Grécia. Cheguei
sozinha na ilha Zakynthos e fui recepcionada com uma GARGALHADA do taxista ao
escutar que estava viajando sozinha. Fiquei triste pelas pessoas terem pena de
quem viaja só. Estava realmente sozinha. Meu telefone tinha quebrado e não
havia computador no local que eu estava. Estava sem a mínima comunicação com o
mundo. Fiz amizade com os donos do flat, que me apresentaram seus amigos do
hotel da frente que me deixaram usar o computador do hotel pra me comunicar com
minha família. Fiz amizade com o pessoal da rua dos restaurantes. Todos me
conheciam, parecia que eu era moradora. Me senti em casa. Se estivesse
acompanhada, possivelmente não sentiria a necessidade de conhecer tantas
pessoas pra não me sentir sozinha. E teria perdido a oportunidade de me
relacionar com um povo tão amigável e hospitaleiro quanto os gregos. Num
passeio que fiz a outra ilha conheci a Meg, que também estava sozinha. Como sou
sem-vergonha, puxei papo. Ela respondeu secamente. Quase desisti. Depois tentei
de novo e ela tá conversando comigo até agora! Nos tornamos boas amigas,
revelamos segredos de nossas vidas uma a outra e nem a distância acabou com
essa amizade. Nos falamos quase todos os dias pelo whatsapp e nos ligamos via
skype ocasionalmente. Nos damos conselhos amorosos e escutamos os lamentos e
alegrias uma da outra.
Meg e eu em Myrthos bay na ilha de Kefalonia-Grécia. Viagem dos sonhos! |
Outras vezes quis SIM ficar sozinha, com
minha companhia, sabe? Só eu e eu! Mas é incrível como brasileiro se ama! Me
ouvem falar português ou dizer que sou brasileira: colam nimim. Hahahaha. Estava de muito mal humor um dia em Genebra e
disse: hoje quero estar SOZINHA. Odeio as pessoas. Fui fazer um city tour e um
senhorzinho americano cismou em ficar puxando papo comigo. Eu respondia às
perguntas com educação mas fugia do meu eu normal em puxar assunto. Até que ele
cita a vergonhosa derrota pra Alemanha na copa e 2 brasileiras que eu já vinha
ouvindo conversar a viagem toda se viram instantaneamente pra mim: você é
brasileira? Colaram em mim! 2 paulistas lindas de viver... fizemos passeios
juntas, comemos, fizemos compras, como velhas amigas! Pena que não as encontrei
no facebook! Um dia perdida pelas ruas de Cesky Krumlove- República Tcheca, vi outra
menina também perdida... nos olhamos e começamos a rir. Nos juntamos, encontramos
nossos albergues e perguntei: quer conhecer a cidade comigo? Ela: sim! E
passamos 2 dias incríveis. E o melhor, a menina é fotografa profissional e
tirou fotos BELÍSSIMAS minhas!
A perdida amiga canadense Katie e eu comendo um delicioso Trdelník de nutela em Cesky Krumlove . |
A minha cara de pau já chegou a níveis extremos
quando estou sozinha. E a dos outros também. Em Lisboa, conheci um senhorzinho,
com seus 76 anos, que me ofereceu ensinar como chegar aos Pasteizinhos de Belém
de metro. Saiu de sua rota, me levou pra comer com ele (pagou inclusive o meu!)
e passeou o dia inteiro comigo, me contando histórias de sua vida e dos lugares famosos pelos quais passávamos.
Pastelzinho de Belém original, ô delícia! |
Coloca a sua timidez de lado e esteja sempre aberto aos que puxam assunto. Temos deixado de conhecer pessoas
incríveis por medo ou falta de esforço. Nem todo mundo é mau ou quer te fazer
mal. Confia no teu sexto sentido e, claro, nas circunstâncias dos
convites. Muito da minha mudança de estilo de vida tenho atribuído a isso, a conhecer
pessoas e compartilhar com elas as minhas e as suas histórias de vida. Ver
que o mundo não é tão mau e egoísta assim. Que algumas pessoas ainda se
importam! É renovar a esperança na humanidade. Preciso me policiar para não só
esperar estar sozinha pra conhecer gente nova! Sair da zona de conforto que só
viajar sozinha me proporciona e buscar conhecer pessoas a cada lugar que vou. Aprender ou ensinar alguma coisa. Cada pessoa que passa por nossa vida deixa
uma marca. Cabe a nós aprender com cada uma delas. Aprender sobre nós mesmos e
sobre os outros. Amadurecer, nos tornarmos pessoas melhores.
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"O fruto de cada palavra retorna a quem a pronunciou" (Abu Shakur).